Sobre o começo da Mastologia no Brasil

Atualizado em 19/04/2021


Lembro a história do início da Mastologia no país e alguns fatos importantes no seu desenvolvimento, dos quais tive conhecimento ou vivenciei. É importante apresentar aos jovens nossa trajetória.


Até meados dos anos 50 as doenças mamárias eram atendidas de forma não especializada por cirurgiões gerais, cirurgiões oncológicos e ginecologistas. Nesta época a demanda pela assistência ao câncer de mama cresceu muito; a par disto, o acúmulo de novos conhecimentos sobre a fisiopatologia do câncer, a técnica operatória e a hormonologia mamária, estimulou a criação de serviços especializados e centros de estudo dedicados. Nesta década foram fundados os primeiros Serviços de Cirurgia de Mama no país: Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro, por Alberto Lima de Morais Coutinho; Hospital A. C. Camargo, em São Paulo, por George Arié; Hospital do Câncer de Recife, por Jaime Queiroz Lima; Hospital Aristides Maltez em Salvador, por Luiz de Oliveira Neves; Hospital das Clínicas, Disciplina de Ginecologia, em São Paulo, por João Sampaio Goes Jr.


A partir da existência destes centros surgiu a necessidade de conjugá-los para troca de experiências e incentivo ao estudo. Em 6 de julho de 1959, no Rio de Janeiro, alguns grandes nomes reuniram-se para fundar a Sociedade Brasileira de Patologia Mamária, mais tarde (1968) denominada de Sociedade Brasileira de Mastologia. Estiveram presentes na cerimônia de fundação João Luiz de Campos Soares, Jorge de Marsillac, Adayr Eiras de Araújo e Alberto Lima de Morais Coutinho, entre outros, sendo este último eleito seu primeiro presidente.


Depois, para a organização de mais centros especializados e difusão do conhecimento, foi fundamental o trabalho de outros cirurgiões de mama. Tive contato com muitos pessoalmente e gostaria de rememorar Alcides Ferreira Santos (PE), Antonio Franco Montoro (SP), Aurélio Monteiro da Silva (RJ), Aurélio Zecchi de Souza (SP), Braz Martorelli Filho (SP), Bylder Toledo Pizza (RJ), Carlos Alberto Valente (SP), Carlos Henrique Menke (RS), Carlos Inácio de Paula (GO), Carlos Zanotta (RJ), Domingos A. Petti (SP), Edison Mantovani Barbosa, Eduardo Santos Machado (RJ), Fausto Farah Baracat (SP), Fernando Gentil (SP), Fernando Miranda Henriques (DF), Gustavo A. de Souza (SP), Haroldo Juaçaba (CE), Helio Eloy Alves Dias (BA), Helio Senna dos Santos (PE), Henrique B. Brenelli (SP), Hiram Silveira Lucas (RJ), Indelécio Garcia Chaves (MG), Ivanildo T. Arruda (PB), Ivo Barreto de Medeiros (RN), Jayro Poggi de Carvalho (PE), João Carlos Sampaio Goes (SP), João Gomes da Silveira (RS), Jorge de Marsillac (RJ), José Antonio Ribeiro Filho (DF), José Aristodemo Pinotti (SP), José Baptista da Silva Neto (SP), José Carlos de Campos Christo (MG), José Salvador Silva (MG), José Ulcijara Aquino (MA), Laerte Justino de Oliveira (PR), Lair Barbosa de Castro Ribeiro (BA), Laurival de Luca (SP), Luis Antonio Brondi (SP), Luis Ferraz Sampaio (SP), Maciel O. Matias (RN), Manoel de Jesus Pinheiro (AM), Marconi M. Luna (RJ), Mario Mourão Neto (SP), Nelson Augusto (SP), Rene Faure (SP), Roberto Gomes (ES), Sebastião Piato (SP), Sergio Hatschbach (PR), Simão Grossman (RS) e Simão Rotstein (RJ). Com certeza, a limitação da memória não me faz lembrar de todos destas primeiras gerações de mastologistas que foram importantes e que mereceriam ser citados.


Em 1971, no elegante hotel Glória, no Rio de Janeiro, foi realizado o primeiro Congresso Brasileiro de Mastologia, presidido por Alberto Coutinho. O evento teve Jerome Urban, chefe do Serviço de Mama do MSKCC, como convidado especial.


Nesta época, João Sampaio Goes Jr. trouxe o primeiro mamógrafo para o país e foi grande divulgador do método. Seu filho João Carlos Sampaio Goes foi aprender a técnica com o Prof. Charles Gros, em Strasbourg, e pioneiramente em nosso meio, passou a trabalhar com o aparelho. Destacou-se na mamografia, a seguir, Domingos A. Petti (Beneficência Portuguesa de São Paulo), que voltava de treinamento em Milão, onde assistira ao Prof. Umberto Veronesi realizar a quadrantectomia número 1.


Em 1977, na UNICAMP, no serviço dirigido por José Aristodemo Pinotti foi realizada a primeira reconstrução mamária imediata, procedimento do qual ele foi o maior incentivador.


O primeiro médico a dedicar-se exclusivamente à Mastologia, sem atender em outras áreas, foi Antonio Franco Montoro. Em 1978, em São Paulo, fundou uma clínica totalmente dedicada às doenças mamárias.


Depois, uma nova e vigorosa geração de especialistas fez a Mastologia crescer no país. Entre muitos, destaco Antonio Figueira Filho (PE), ao retornar de pós-graduação na Inglaterra.


A Mastologia passou a ser Departamento da Associação Médica Brasileira em 1978 (trabalho de João Sampaio Goes Jr.), reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina em 1989 (trabalho de José Antônio Ribeiro Filho), e recertificada definitivamente em 2002, pela Comissão Mista AMB, CFM e Comissão Nacional de Residência Médica. Em 2004 foi inaugurada a Residência Médica no país, a primeira específica no mundo.


O primeiro concurso de provas para obtenção do TEMA ocorreu em Canela (RS), em 1986. Antes disto haviam sido concedidos títulos de especialista pela Sociedade a médicos de reconhecido saber.


Outros avanços: a Revista Brasileira de Mastologia, de caráter puramente científico, foi fundada em 1990 e o Certificado de Qualificação na Área de Atuação em Mamografia passou a ser concedido em 1995. Esta última conquista foi liderada por Marconi M. Luna.


Em 1994 foi realizado no Rio de Janeiro um Congresso Mundial de Mastologia, com 2500 participantes. Absoluto êxito, recorde de número de inscritos até hoje. Foi presidido por Antonio Figueira Filho.


A Escola Brasileira de Mastologia foi fundada em 1995, como entidade autônoma. Foi criada por Antônio Figueira Filho, Ezio Novais Dias, Henrique M. Salvador Silva, Marconi M. Luna, Maurício M. Costa e Alfredo Carlos S. D. Barros, com a finalidade de desenvolver a especialidade, organizando cursos teórico-práticos nos diversos pontos do país. Foi um grande êxito. Mais tarde, a Escola foi cedida e incorporada à SBM. Continuou sempre crescendo.


O futuro depende do conhecimento do passado. Recordar é preciso.


Alfredo Carlos S. D. Barros

Autor(a)

Alfredo Carlos S. D. Barros
Professor de Pós-graduação da Faculdade de Medicina da USP, Disciplina de Fisiopatologia Experimental.

- Responsável pela Residência de Mastologia do Hospital Beneficência Portuguesa.
- Presidente do Instituto Grupo de Estudos de Mastologia.