Risco clínico e genômico para recorrência e sobrevivência do câncer de mama

Atualizado em 30/07/2024

A recorrência à distância após o tratamento do câncer de mama localizado pode ocorrer mais de 30 anos depois. Fatores clinicopatológicos, como acometimento axilar, tamanho tumoral e grau histológico, são prognósticos para recorrência precoce e tardia. Os resultados do Recurrence Score (RS) do Oncotype DX podem fornecer informações prognósticas para recorrência e informações preditivas para o benefício do uso de quimioterapia. O papel dessas informações associadas para recorrência tardia não foram adequadamente avaliadas.


Assim, o objetivo deste estudo foi fornecer estimativas do risco de recorrência em 10 anos e do benefício absoluto da quimioterapia, o valor prognóstico do RSClin em comparação com modelos usando apenas fatores clinicopatológicos ou apenas o RS, e uma análise atualizada dos dados do TAILORx em acompanhamento mais longo e, assim, se confirmar a não inferioridade da terapia endócrina em comparação com a quimioterapia no grupo RS 11 a 25.


ACOMPANHAMENTO E EVENTOS ADICIONAIS NA ATUALIZAÇÃO TAILORx

A análise atualizada do TAILORx foi realizada após um acompanhamento médio de 10 anos. Ao avaliar as taxas de eventos, o RS forneceu informações prognósticas para todos os resultados clínicos, incluindo sobrevida livre de doença invasiva, recorrência à distância ou locorregional e sobrevida geral. Pacientes cujos resultados de RS foram de 0 a 10 e foram tratadas apenas com endocrinoterapia (TE), as taxas de intervalo livre de recorrência a distância em geral foram de 93,2% e 91,4%. Para pacientes cujos resultados de RS foram de 11 a 25 e que foram aleatoriamente alocadas para receber TE apenas ou quimioterapia, houve uma diferença inferior a 1% para todos os desfechos ao comparar TE com quimioterapia após 12 anos de seguimento. Pacientes com resultados de RS de 26 a 100 e que receberam quimioterapia, as taxas de intervalo livre de recorrência à distância em geral foram de 84,8% e 80,9%.


RS 11 A 25 NA ATUALIZAÇÃO TAILORx

Nessa atualização, as conclusões primárias permaneceram inalteradas para sobrevida livre de doença invasiva (RR 1,09; IC 0,94-1,24) e recorrência à distância (RR 1,11; IC 0,90-1,36). Também não houve alterações na ausência de recorrência a distância ou locorregional (RR 1,15; IC 0,96-1,36) e sobrevida geral (RR 1,06; IC 0,91-1,24).


RESULTADOS CLÍNICOS DE ACORDO COM A IDADE, RISCO CLÍNICO E RAÇA NA ATUALIZAÇÃO TAILORx

Para mulheres com 50 anos ou menos, houve diferenças comparando o grupo de quimioterapia versus o grupo apenas TE aos 12 anos para sobrevida livre de doença invasiva (83,9% vs. 78,7%), ausência de recorrência a distância (93,8% vs. 92,5%), ausência de recorrência a distância ou locorregional (91,1% vs. 87,7%) e sobrevida geral (94,5% vs. 92,4%).

Em modelos multivariáveis ajustados para idade, tamanho do tumor, grau, RS em toda a população TAILORx, a raça negra foi associada a um risco de recorrência maior (RR 1,57; IC 1,11-2,22) e morte (RR 2,00; IC 1,32-3,02) em comparação com raça branca em 5 anos; as diferenças não foram observadas após 5 anos de seguimento.


ATUALIZAÇÃO DE META-ANÁLISE ESPECÍFICA DO RSClin

Foram quantificados o desempenho do RSClin versus um modelo reduzido apenas com fatores clinicopatológicos (grau do tumor, tamanho do tumor e idade) e versus um modelo reduzido apenas com resultado de RS. O modelo RSClin forneceu estimativas de risco significativamente melhores em comparação com o modelo com fatores clinicopatológicos e o modelo com resultado RS isolado.


RSClin E ATUALIZAÇÃO DE RECORRÊNCIA A DISTÂNCIA EM 10 ANOS

Em pacientes tratados apenas com TE que tiveram um RS de 0 a 25, o RS foi associado à recorrência a distância nos anos 0 a 5 (RR 5,87 para RS 25 vs RR 10; IC 92,88-11,96) e após o ano 5 (RR 1,73; IC 1,06-2,83). Para aqueles tratados com quimioterapia que tiveram um RS de 11 a 100, o RS foi associado a recorrência a distância nos anos 0 a 5 (RR 3,32; IC 1,95-5,65) e após o ano 5 (RR 2,52; IC 1,43-4,44).

As estimativas de risco de recorrência a distância em 10 anos do RSClin são um pouco reduzidas para valores de RS muito altos. A inclusão dos dados desse acompanhamento maior do TAILORx aumentou a precisão das estimativas de risco em relação às estimativas originais do RSClin, particularmente para pacientes com valores médios de RS (ou seja, 11 a 25). As estimativas para o benefício absoluto da quimioterapia foram ligeiramente reduzidas no modelo RSClin atualizado em comparação com o modelo RSClin original.


VALIDAÇÃO EXTERNA DE RSClin PARA RECORRÊNCIA A DISTÂNCIA

As novas estimativas de risco RSClin em pacientes que receberam TE isoladamente e sobreviveram 5 anos após a cirurgia sem recorrência foram prognósticas para recorrência a distância (risco padronizado, 1,78; IC 1,25-2,55).


CONCLUSÃO

Em acompanhamento de 10 anos, os dados oriundos do TAILORx mostraram-se consistentes com as conclusões primárias do estudo: semelhança entre o grupo de TE em comparação com de quimioterapia para o desfecho primário de sobrevida livre de doença invasiva. Ao se combinar informações prognósticas para recorrência a distância fornecidas pelo RS e fatores clinicopatológicos, a ferramenta RSClin fornece estimativas melhoradas do risco de recorrência a distância em 10 anos em comparação com qualquer recurso usado individualmente, sendo assim eficaz para o informação às pacientes e tomada de decisão em relação à terapia local e sistêmica no câncer de mama inicial.





Autor(a)

Paulo Tenório
Médico Mastologista pela FMUSP/SP

Mastologista do Programa Cuidar do Hospital Israelita Albert Einstein; Mastologista da Clínica Femi em Alphaville/SP; Membro da Comissão de Educação Continuada da Sociedade Brasileira de Mastologia-SP