Manejo da Axila em Câncer de Mama em estágio inicial

Manejo da Axila em Câncer de Mama em estágio inicial

Manejo da Axila em Câncer de Mama em estágio inicial

ONTARIO HEALTH (CANCER CARE ONTARIO) E ASCO GUIDELINE.

Introdução:

Desde 2002 o estadiamento axilar tem sido parte do tratamento cirúrgico em casos de câncer de mama. Sabemos que dissecção de linfonodos axilares está associado a morbidade significativa, como linfedema e neuropatia, que causam importante impacto na vida da paciente, e por vezes, seus benefícios não são superiores aos riscos.

Objetivos:

Esta diretriz tem como objetivo fornecer recomendações sobre as melhores estratégias para o manejo e sobre o melhor momento e tratamento (cirúrgico e radioterápico) da axila para pacientes com câncer de mama em estágio inicial.

Foram levantados 5 questionamentos e para cada um, há uma recomendação.

    1. Quais pacientes requerem estadiamento axilar

 

    1. Determinar se qualquer tratamento axilar adicional é indicado para mulheres que não receberam quimioterapia neoadjuvante e são linfonodos-sentinela negativos no diagnóstico

 

    1. Qual estratégia axilar é indicada nas mulheres que não receberam quimioterapia neoadjuvante e que são linfonodos-sentinela patologicamente
    2. Qual tratamento axilar é indicado e qual o melhor momento quando quimioterapia neoadjuvante é utilizada

 

  1. Quais os melhores métodos para identificar os linfonodos-sentinela.

Métodos:

Ontario Health (Cancer Care Ontario) e ASCO convocaram um grupo de especialistas para desenvolver recomendações baseadas em evidências por revisão sistemática da literatura.

Para esta elaboração, o grupo de pesquisadores realizou revisões sistemáticas de janeiro de 2011 a junho de 2017 e também estudos primários de janeiro de 2007 a fevereiro 2020. Os critérios de inclusão compreenderam estudos de ≥ 100 mulheres com câncer de mama em estágio inicial, ou seja, estágios I, IIA e IIB; grupos de prognóstico T1 e T2, N0, N1mi, N1 e M0; e tamanho do tumor primário ≤ 5cm. Os resultados medidos incluíram sobrevivência, controle da doença, qualidade de vida, eventos adversos, taxa de conclusão do procedimento, taxa de falso-negativo. Estudos de tratamentos experimentais foram excluídos.

Objetivo 1:

Quais pacientes requerem estadiamento axilar

Recomendação:

    • Para pacientes com idade > 70 anos com câncer de mama invasivo em estágio inicial clinicamente negativo (T1N0), ou seja, receptor de hormônio positivo e receptor de fator de crescimento epidérmico humano 2 (HER2) negativo, a biópsia de linfonodo sentinela (BLS) não é necessária.

 

  • Para pacientes com idade <70 anos sem comorbidades significativas, BLS deve ser considerado

Objetivo 2:

Determinar se qualquer tratamento axilar adicional é indicado para mulheres que não receberam quimioterapia neoadjuvante e são linfonodo-sentinela negativo no diagnóstico

Recomendação:

    • Não deve ser indicado quando não há metástases linfonodais

 

  • Em alguns pacientes selecionados (por exemplo, pacientes com características de alto risco ou tumores em região central ou medial) é razoável oferecer a opção de irradiação nodal loco-regional (INLR). Uma discussão de risco-benefício deve ser realizada. Esta recomendação não inclui história de tumores multicêntricos, tumores >3cm, cirurgia anterior para tratamento de cancer de mama, metástase, alérgicas ao corante azul ou radioisótopo, grávidas ou amamentando, carcinoma in situ.

Objetivo 3:

Qual estratégia axilar é indicada nas mulheres que não receberam quimioterapia neoadjuvante e que são linfonodo-sentinela patologicamente positivos (após apresentação clinicamente negativa)

Recomendação:

    1. Dissecção axilar após BLS
      Não é indicado dissecção axilar se há uma ou duas metástases de linfonodo sentinela que receberam cirurgia conservadora da mama.

 

    1. Radioterapia da axila em comparação com nenhuma irradiação
      É razoável oferecer a opção de radioterapia da axila além da irradiação da mama ou da parede torácica após a cirurgia, particularmente em pacientes com tumores mediais ou centrais e em pacientes com características de alto risco.

 

    1. Radioterapia na axila em comparação a dissecção axilar
      Recomendado a RT ao invés de dissecção axilar em paciente com linfonodo clinicamente negativo e LS patologicamente positivo com tumores de até 5cm e doença unifocal ou multifocal restrita a um quadrante. Em pacientes que recebem cirurgia conservadora da mama, não recomendado a dissecção se um ou dois LS forem positivos. INLR é uma opção razoável, especialmente quando há características de alto risco. Dissecção axilar e INLR para a axila são recomendados se ≥ 3 linfonodos sentinela forem positivos. Em pacientes que recebem mastectomia e têm de um a dois linfonodos positivos, a radiação pós-mastectomia na axila é recomendada e dissecção pode ser omitido com segurança.

 

    1. Radioterapia em comparação com nenhum tratamento
      Em pacientes com câncer invasivo unilateral de tamanho pequeno (ou seja, T1a), características favoráveis ​​do tumor, margens livres e um a três linfonodos positivos, tratados com quimioterapia ou terapia hormonal, pode oferecer a opção de omitir INLR

 

Objetivo 4:

Qual tratamento axilar é indicado e qual o melhor momento quando quimioterapia neoadjuvante é utilizada

Recomendação:

    1. Linfonodos inicialmente negativos
      Se clinicamente negativos ou suspeitos no exame físico e patologicamente negativos e tratados com QT neoadjuvante devem realizar BLS

 

    1. Linfonodos inicialmente positivos
      Recomendado BLS mesmo se após QT neoadjuvante se apresentarem clinicamente negativos. Também é recomendado irradiação axilar, independentemente do estado patológico dos linfonodos sentinela.

 

    1. Radioterapia na axila em comparação a dissecção axilar
      Recomendado a RT ao invés de dissecção axilar em paciente com linfonodo clinicamente negativo e LS patologicamente positivo com tumores de até 5cm e doença unifocal ou multifocal restrita a um quadrante. Em pacientes que recebem cirurgia conservadora da mama, não recomendado a dissecção se um ou dois LS forem positivos. INLR é uma opção razoável, especialmente quando há características de alto risco. Dissecção axilar e INLR para a axila são recomendados se ≥ 3 linfonodos sentinela forem positivos. Em pacientes que recebem mastectomia e têm de um a dois linfonodos positivos, a radiação pós-mastectomia na axila é recomendada e dissecção pode ser omitido com segurança.

 

Recomendado a dissecção axilar se linfonodos clinicamente positivos e que permaceram positivos pós QT-neoadjuvante.

Recomendado INLR após dissecção axilar para pacientes com linfonodo clinica e patologicamente positivo na cirurgia conservadora de mama.

Objetivo 5:

Quais os melhores métodos para identificar os linfonodos-sentinelas.

Recomendação:

    1. Marcação única x dupla
      Em pacientes submetidas a cirurgia primária não é necessário dupla marcação de rotina. Em pacientes que recebem quimioterapia neoadjuvante, é recomendado colocação de clipe diagnóstico no linfonodo positivo no momento do diagnóstico e localiza-lo no momento da cirurgia.

 

    1. Linfonodos inicialmente positivos
      Recomendado BLS mesmo se após QT neoadjuvante se apresentarem clinicamente negativos. Também é recomendado irradiação axilar, independentemente do estado patológico dos linfonodos sentinela.

 

    1. Guiado por US X Radioisótopo/corante
      Linfonodo clinicamente negativo, estadiamento axilar por US não é indicado. Se clinicamente positivo, recomenda-se a biópsia guiada por US.

 

    1. US X estadiamento cirúrgico
      O estadiamento apenas por US não confirmado por biópsia não deve ser utilizado ao invés de BLS tradiciona

 

Conclusão:

As intervenções propostas são viáveis, muitas vezes já fazem parte do padrão atual de atendimento, e não exigiriam quaisquer mudanças significativas ou custos adicionais nos sistemas atuais, que é um facilitador para a implementação desta diretriz. A aplicação das recomendações deve ser feita caso a caso, a tomada de decisão compartilhada e a consideração das comorbidades reduzirão o risco de aumento da morbidade, especialmente em mulheres vulneráveis ​​e idosas.

Autor(a)

Emiliana Alves Cardoso

Médica formada pela Universidade de Marília - Unimar. Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia pela Universidade de Marília - Unimar Residente em Mastologia no Hospital Amaral Carvalho - Jaú