TERAPIA ENDÓCRINA

TERAPIA ENDÓCRINA

O câncer de mama é uma realidade alarmante enfrentada por milhões de mulheres em todo o mundo. Embora a perspectiva possa ser assustadora, os avanços médicos oferecem diversas opções de tratamento que melhoram a qualidade de vida e aumentam as chances de sobrevivência. Entre essas opções, a Endocrinoterapia, também conhecida como Hormonioterapia, Terapia Hormonal ou Terapia Endócrina, desempenha um papel crucial. Este tratamento é direcionado para os tipos de câncer de mama que dependem de hormônios para crescer.

O que é Endocrinoterapia?

A Endocrinoterapia é o tipo de tratamento eficaz contra tumores que crescem em resposta à ação de hormônios, como o estrogênio e a progesterona. Esses tumores são conhecidos como “positivos para receptores hormonais”. A terapia hormonal busca diminuir a produção desses hormônios ou bloquear sua ação nas células tumorais, reduzindo assim a velocidade de crescimento do tumor ou até mesmo eliminando essas células completamente. Além disso, ela pode ser usada em pacientes após a cirurgia, em pacientes com metástases e em pacientes antes da cirurgia (situação menos comum).

Como Funciona a Endocrinoterapia:

Existem diversos medicamentos e métodos utilizados na Endocrinoterapia, cada um agindo de uma maneira específica para controlar ou bloquear a ação dos hormônios sobre o câncer. Inibidores de aromatase, por exemplo, reduzem a quantidade de estrogênio produzido no corpo, enquanto os moduladores seletivos de receptores de estrogênio (SERMs), como o tamoxifeno, bloqueiam a ação do estrogênio nas células mamárias.

Há também medicamentos que inibem a produção de hormônios pelos ovários, chamados de supressores ovarianos. O médico pode recomendar um tipo específico de tratamento com base em vários fatores, incluindo o estágio do câncer, a idade da paciente e se ela já passou pela menopausa.

Os inibidores de ciclina funcionam ao interferir no ciclo celular das células tumorais, impedindo sua divisão e crescimento. São utilizados em combinação com inibidores de aromatase em pacientes com câncer de mama de inicial de alto risco.

Considerações Especiais:

  • Fertilidade: Pessoas que desejam ter filhos no futuro devem consultar um especialista em fertilidade antes de iniciar a terapia endócrina, assim como discutir possibilidade de suspensão do tratamento se desejo de gravidez.

 

  • Pré-menopausa e Menopausa: O tratamento varia se a mulher está na pré-menopausa (ainda tem ciclos menstruais) ou na menopausa (parou de ter ciclos menstruais). Na pré-menopausa, o tamoxifeno é comumente usado, enquanto após a menopausa podem ser recomendados tamoxifeno ou inibidores de aromatase (anastrozol, letrozol ou exemestano).

Benefícios e Efeitos Colaterais:

Os benefícios da Endocrinoterapia no tratamento do câncer de mama são significativos, contribuindo para a redução do risco de recorrência do câncer e a melhoria da sobrevida global. No entanto, como qualquer tratamento, pode haver efeitos colaterais. Alguns dos mais comuns incluem ondas de calor, fadiga, mudanças de humor, risco aumentado de coágulos sanguíneos, e impactos na saúde dos ossos, podendo levar à osteoporose no longo prazo. É crucial que os pacientes discutam qualquer efeito colateral com sua equipe médica, pois muitos deles podem ser controlados efetivamente com alterações no estilo de vida ou medicações adicionais.

Considerações Finais e Apoio:

Optar pela Endocrinoterapia é uma decisão significativa que deve ser tomada após uma discussão detalhada com sua equipe de saúde. É vital manter uma comunicação aberta com seus médicos sobre quaisquer efeitos colaterais que experimente ou preocupações que possa ter. Além do suporte médico, unir-se a grupos de apoio e conectar-se com outras pessoas que estão passando por situações semelhantes pode fornecer conforto e compreensão adicionais. Lembre-se de que cada jornada é única e a Endocrinoterapia é apenas uma parte do tratamento geral do câncer de mama, que pode incluir cirurgia, radioterapia e quimioterapia, dependendo do caso específico.

Tipo de Medicamento ou Procedimento Como Funciona Quando é Usado Exemplos Comuns Efeitos Colaterais Comuns
Moduladores Seletivos do Receptor de Estrogênio Bloqueia os efeitos do estrogênio nos tecidos mamários Pré- e pós-menopausa, em casos de câncer de mama positivo para receptor de estrogênio Tamoxifeno Ondas de calor, riscos de coágulos sanguíneos, fadiga
Inibidores de Aromatase Reduzem a quantidade de estrogênio produzida pelo corpo Pós-menopausa, em casos de câncer de mama positivo para receptor de estrogênio Anastrozol, Letrozol, Exemestano Ondas de calor, dor nas articulações, enfraquecimento ósseo
Degradagores Seletivos do Receptor de Estrogênio Atuam nos receptores de estrogênio em diferentes tecidos de formas variadas Dependendo do tipo específico de câncer de mama e das características do paciente Fulvestranto Dor no local da injeção, náuseas, fraqueza
Inibidores de Ciclina Interferem no ciclo celular e podem impedir a divisão das células tumorais Em combinação com a terapia endócrina em alguns casos de câncer de mama avançado Palbociclibe, Ribociclibe, Abemaciclibe Diarreia, leucopenia (baixa contagem de leucócitos), fadiga
Supressão Ovariana Usa medicamentos para desativar os ovários e parar a produção de estrogênio Pré-menopausa, em casos de câncer de mama positivo para receptor de estrogênio Análogos de LHRH (Gosserrelina, Leuprorrelina, Triptorrelina) Ondas de calor, risco de osteoporose, mudanças de humor
Ooforectomia Bilateral Remoção cirúrgica dos dois ovários Em alguns casos de risco elevado de câncer de mama ou para tratamento de câncer existente Procedimento cirúrgico Menopausa precoce, risco de osteoporose, mudanças de humor

 

Autor(a)

Marcelo Antonini

Mastologista

Membro da Comissão de Tratamento Sistêmico da SBM-SP