Uso de estrogênio vaginal em sobreviventes de câncer de mama: uma revisão sistemática e meta-análise de riscos de recorrência e mortalidade.
O objetivo dos autores foi avaliar o risco de recorrência do câncer de mama, a mortalidade especifica e a mortalidade geral entre as mulheres sobreviventes de câncer de mama que receberam terapia estrogênica vaginal para síndrome geniturinária da menopausa. Sabemos que uma porção considerável dessas pacientes sofrem com esses sintomas, impactando a sua saúde sexual e qualidade de vida no geral. Associado a isso, evidências demonstram que a terapia estrogênica seria o melhor tratamento para esses sintomas, mas há um receio em relação às pacientes tratadas de câncer de mama quanto ao prognóstico com uso dessa terapia hormonal tópica. Para atingir o objetivo, os autores realizaram uma revisão sistemática registrada na PROSPERO sobre o tema em abril e setembro de 2024. Definiram como desfecho primário a recorrência de câncer de mama e secundários: mortalidade por câncer de mama e mortalidade geral entre as mulheres sobreviventes de câncer de mama que utilizaram estrogênio tópico para síndrome genitourinária.
P (população) = mulheres com síndrome genitourinária da menopausa e histórico de câncer de mama
I (intervenção) = terapia de estrogênio vaginal
C (controle) = placebo, não tratamento ou terapia alternativa (incluindo terapias não hormonais)
O (desfecho) = taxa de recorrência tumoral, incluindo recidiva local, tumor contralateral ou metástase
S (estudo) = estudos observacionais como coorte e caso-controles, retrospectivos ou prospectivos.
Selecionados 8 estudos observacionais para meta-análise. Todos provenientes de países desenvolvidos e apresentando baixo risco de viés. Estrogênios utilizados foram cremes e tabletes, não descrito o tipo (2 estudos sem informação). A maioria dos estudos não descreveu a média de duração do uso de estrogênio (2 estudos tiveram 1 ano de duração e 1 estudo 10 anos). O seguimento médio variou de 4.2 anos a 9.8 anos (em 4 estudos não descrito esse dado).
O uso de estrogênio vaginal em pacientes sobreviventes de câncer de mama não foi associado a um risco aumentado de recorrência tumoral (6 artigos, 24.060 pacientes, 11,6% versus 15,8%, OD 0,48; IC95% 0,23-0,98). Não houve aumento na mortalidade por câncer de mama (4 artigos, 61.695 pacientes, OD 0,60; IC95% 0,18-1,95). Não houve aumento na mortalidade geral com o uso de estrogênio vaginal em sobreviventes de câncer de mama (5 artigos 59.724, OD 0,46; IC 95% 0,42-0,49).
Devemos considerar que os dados obtidos são de estudos observacionais e retrospectivos, além de haver uma grande heterogeneidade entre os estudos (índice de Higgs acima de 95% para os desfechos, exceto para mortalidade geral), provavelmente devido a diferença entre seguimento e tempo de uso de estrogênio entre os estudos.
Os autores concluem que o uso de estrogênio vaginal em pacientes com histórico de câncer de mama parece não estar associado a um aumento no risco de recorrência do câncer de mama, mortalidade específica por câncer de mama ou mortalidade geral, diante desta meta-análise. Estudos mais consistentes, controlados e prospectivos podem ratificar com segurança esses dados.
Médico Mastologista pela FMUSP/SP
Mastologista do Programa Cuidar do Hospital Israelita Albert Einstein; Mastologista da Clínica Femi em Alphaville/SP; Membro da Comissão de Educação Continuada da Sociedade Brasileira de Mastologia-SP